segunda-feira, 23 de julho de 2012

e aí...COMEU?


 Assisti o filme já de antemão com uma certa má vontade pelo título em si. Achei o título machista e o começo do filme é um monólogo hiper, mega, ultra machista, mas ao decorrer do filme a situação muda um pouco e na verdade se percebe que esses homens vivem em função das mulheres fingindo ser o único interesse: o sexo. O pretexto que eles usam para camuflar os  seus verdadeiros sentimentos.                              Japa III

Crítica: Roberto Guerra
"Existe um conservadorismo travestido de ousadia na comédia E aí...Comeu?, a começar pelo título, que pode sugerir ao espectador estar diante de um filme atrevido, politicamente incorreto, satírico às convenções sociais. Pura ilusão. A nova empreitada no cinema do ator e comediante Bruno Mazzeo (Cilada.com) dissimula sua caretice por trás dos diálogos pretensamente abertos e descolados de seus três protagonistas. Eles são amigos de velha data que se encontram numa mesa de bar para divagar sobre as mulheres de suas vidas.

Fernando (Bruno Mazzeo), Honório (Marcos Palmeira) e Fonsinho (Emilio Orciollo Netto) procuram entender o papel do homem diante da mulher contemporânea após o fracasso do casamento de um deles. Mote interessante, execução tacanha. Nas conversas no bar Harmonia, regadas a muito chope, o trio não soa convincente graças aos diálogos elaborados na linha “eu levanto e você corta”, que funcionam bem nos sitcoms americanos, mas parecem artificiais na boca de um brasileiro, por mais que o trio de atores se esforce para dar naturalidade à filosofia de boteco que brota dos bate-papos.

Nos encontros regulares, eles remoem seus diferentes dissabores afetivos, falam muito de sexo e são servidos por um garçom comedor interpretado por Seu Jorge. São três estereótipos masculinos de perfis distintos: solteiro convicto que vive de relacionar-se com o maior número possível de mulheres; pai de família preso a um casamento no qual reina a falta de diálogo e desconfiança; e, por fim, homem abalado pelo fim recente de um relacionamento que demoniza a ex-mulher.

Personagens generalizados e baseados em modelos não constituem um problema nas comédias. Às vezes é na tipificação que mora a graça. A perspectiva da mesa de bar e a visão machista que surge da conversa de homens neste ambiente também são boas escolhas. Infelizmente, o roteiro nada inovador anula as boas possibilidades ao fazer piada com situações batidas, como a do homem comparando seu pênis ao membro de um cavalo ou dizendo achar que japonesas têm a vagina na horizontal. Outras falas beiram o ridículo, como a do jornalista interpretado por Marcos Palmeira desabafando na redação.

Tudo isso até poderia funcionar em um programa de humor televiso na linha Louco por Elas e Cilada. Num longa-metragem fica disperso e faz E aí... Comeu? parecer uma colagem de esquetes, mesmo que o roteiro se esforce em alimentar tramas paralelas, nas quais transitam as personagens femininas. Por sinal, num filme cuja mulher moderna é o tema central, faltou explorar mais elas, dando destaque, por exemplo, ao grupo de também frequentadoras assíduas do bar ou, então, às cônjuges dos personagens principais, que mereciam mais destaque.

E aí... Comeu? pode agradar a quem estiver com pré-disposição para rir de piadas sexistas batidas e de gosto duvidoso. Não chega a ter momentos constrangedores como Cilada.com, mas está a anos-luz de parecer algo ousado e inteligente dentro do pobre cenário das comédias brasileiras.

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